quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Dias de Domingo


Os Domingos parecem a alguns outros, e durante um bom tempo pareceu a mim também, dias de se cultivar melancolia. Acho que uma melancolia assim: tímida, que chega sem aviso, e quando menos se percebe toma conta de todo o lugar. Invade as salas de jantar de velhos apartamentos, deixa um tom amarelo nos sorrisos, desbota o azul dos vestidos das moças, abandona uma certa inexplicável tristeza no ar. Escutar o tema da abertura do Fantástico então, parece fechar com maestria toda esta parada de tons cinzas dos mais variados que coroam este primeiro dia da semana. Exatamente, primeiro dia da semana sim. Muitos não se lembram que o Domingo é o primeiro dia da semana. E talvez por isso mesmo, a segunda-feira seja um dia tão puxado para quem trabalha. A explicação está aí: a segunda-feira é, simplesmente, a ressaca do Domingo. A dor de cabeça mal curada. A lembrança muito fresca. O adeus. A constatação de que longe estamos de alcançar o próximo fim-de-semana.


Os Domingos amanhecem preguiçosos, sem muita conversa, sem muita explicação. É justamente este dia da semana que nos conduz à reflexão. Ou ponderação. Ou iluminação. Ou depressão. Ou nada.


Cada lugar no mundo tem um céu diferente: Paris é rosa, Portugal é amarelo, a Grécia é azul... Mas posso, sem sobra de dúvidas dizer que o Domingo é cinza em qualquer lugar. E isto faz do Domingo um dia universal. Domingo é Domingo em qualquer canto do planeta.


A ironia de tudo isso mora no fato de que o Domingo, mesmo insistindo em ser tão frio e cinza, é também o dia da família sentada em volta de uma gigantesca macarronada. E nesta hora, quando os garfos esgrimam entre si, nenhum dia é mais Domingo do que este dia. É nesta hora também que o Domingo se ilumina de uma intensa alegria aprisionada por seis dias e que estava louca para sair e mostrar sua cara. Também não se pode esquecer que Domingo é o dia oficial dos namorados assistirem um filme no cinema, trocarem beijinhos inocentes e trançarem os dedos ao dar as mãos durante a exibição da fita. Tem coisa mais triste do que uma pessoa sozinha no cinema num dia de domingo?


Nos domingos, os parques da cidade ficam cheios e em todas as direções é possível ver crianças unindo as mãos de pai e mãe com as suas ainda tão pequenas.




É preciso recordar estas coisas para se apagar o cinza do Domingo e colorir tal dia com uma dose de otimismo. É preciso espantar a melancolia. É preciso entender que na verdade, são as pessoas que nos cercam que fazem de nossos domingos dias de sol.
Diante de todas estas ponderações aqui deixadas, só me resta com muita alegria declarar que a chegada do meu filho fez do Domingo eterno dia de sol. É aos Domingos que eu e meu filho, abandonamos qualquer outro compromisso para dedicar algumas horas na praça perto de nossa casa com alegria, brincadeiras e muito sol, mesmo quando a meteorologia anuncia um dia nublado. (Vanessa Angelo)

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